Todos transportamos connosco alguns fantasmas. Que mais adormecidos ou não seguem-nos para onde quer que vamos. Com o tempo habituamo-nos a sua presença e se calhar, até nos esquecemos que eles estão ali. Mas chega um dia em que tropeçamos num deles e voltamos a ficar alerta. Voltam os medos do passado. Os traumas de memórias rescaldadas em tempos idos.

Voltam, talvez, para nos lembrar o quanto somos fortes. Voltam para nos lembrar que se cairmos sete vezes temos que nos erguer oito e continuar a caminhar.Voltam para nos lembrar que se estamos hoje aqui e agora, com certeza valeu a pena não ter baixado os braços.

Precisamos isso de vez em quando, de ser lembrados que há dor para alem da alegria. Que há tristeza para além dos sorrisos. Que há solidão para além da amizade e companheirismo.

Temos que ser lembrados para conseguirmos dar mais valor aos momentos bons, porque como humanos que somos, estamos aptos a esquecer muito depressa aquilo que não nos interessa.

E eis que o Natal passou, quase com a rapidez de um piscar de olhos. Foi tempo de familia. Foi tempo de amigos. Foi tempo de reencontros e de por a conversa em dia com quem já não via há muito. Foi tempo de recordações e de recolhimento....

Estive estes dias por casa dos meus avós lá pela aldeia, há muito tempo que não passava lá as festas, foi bom, mas veio à memória os tempos em que estavamos todos juntos, em que a minha familia ainda estava unida...e claro, inevitávelmente isso mexeu comigo. O Natal era sempre significado de ir para o Espinheiro, de estar na casa dos avós, de viver as festas, de sentir aquele frio gelado que sabe de facto a Natal..e no presente, as cosias não se passam bem assim...

Mas foram uns dias reconfortantes, que me aqueceram a alma... Cheios de movimento, de foguetes, de bailes, de copos de ginja, de risos, e de ter a casa sempre cheia de amigos...mas é isso o Natal, estar rodeado de quem mais amamos..

Há uns dias, no meio das arrumações, descobri umas cartas antigas, que troquei em tempos com uma amiga francesa. Uma amizade nascida em terras de Sua Majestade. A  vida tem destas coisas..

Foi uma amizade à primeira vista, se é que isto existe... Foi engraçado reler as palavras trocadas, relembrar os momentos vividos. Doces recordações..A vida passa mesmo depressa, já lá vão, se não me engano, 8 anos. É quase uma vida!

Sou uma pessoa diferente da menina de 14 anos, da menina que começou aquela amizade. Mas é engraçado ver como algumas coisas se mantêm na mesma.

Tive saudades..tive pena de ter perdido o contacto com a Charlotte. Embora nos tivéssemos visto só mais uma vez depois de Dover, era uma amizade sincera, pura, verdadeira... Foi uma amizade nascida de repente, nascida do nada mas que nos disse muito, durante muito tempo..

Hoje apanhei-me a pensar que as férias não têm mais o sabor de outrora. Férias a sério, cheias de pequenas coisas, vivias há muitos anos, nos tempos felizes de criança inocente!

Os dias eram passados a brincar, com os amigos ou sozinha. Imaginação nunca faltou! Horas a fio a jogar a tudo e mais alguma coisa, a inventar brincadeiras, a criar personagens, a fazer vestidos para as barbies, a mascararmo-nos de princesas e palhaços e leões e super heróis.. Depois vinham os lanches...o leitinho com chocolate e as toreadas com azeite, os bolos caseiros, a gelatinha fresquina.. e depois o campismo, as ruas de Mil fontes..os dias em familia.

Sim..eram coisas simples ( nada comparadas com as férias que faço nos ultimos anos), coisas simples que tinham a capacidade de me fazer real e totalmente feliz..