Quando era miúda raras eram as vezes em que me deitava sem espreitar debaixo da cama. Confirmava sempre se não estaria por lá escondido um qualquer monstro aterrador que me puxasse os pés durante o sono. E se acordava a meio de uma noite de verão destapada ou com o pé de fora, depressa voltava para baixo das mantas, com cabeça tapada e tudo, deixando apenas um pequeno espaço para poder respirar. Ainda hoje faço isso, se bem que por razões diferentes. Mas há um que de aconchego em deixar-me abraçar pelas mantas e adormecer. É engraçado como mantenho esse hábito, principalmente nas noites de inverno ou quando preciso desesperadamente chorar e deitar as mágoas cá para fora. Enrosco-me nas mantas. Tapo a cabeça e deixo sair. Sinto-me protegida..reconfortada. Se calhar é estranho. Provavelmente sou das poucas #"aves raras" adultas a fazer este disparate.. mas cada um é como cada qual. Eu sou assim, meio louca, meio criança. E se estas pequenas coisas me fazem bem e feliz..bem certamente é porque não estão assim tão
erradas.
Traumas.Choque. Perdas.
Tudo isso nos faz repensar naquilo que tem sido a nossa vida. O que fazemos. O que queremos. Quem queremos ao nosso lado.
Não sei se é a sensação do "podia ter feito mais" ou "que raio ando eu a fazer a minha vida", o que é certo é que qualquer uma das situações
conduz a mudanças. Mudamos estilos de vida. Mudamos de casa. De corte de cabelo. De estilo. Mudamos para quebrar com o ciclo que queremos encerrar. Mudamos para conseguirmos começar uma nova etapa novamente. Sem fantasmas. Sem
medos. Sem "ses". Tenho passado parte dos meus dias a pensar na vida e se umas vezes até é de forma bastante filosófica, outros nem por isso... O que é certo é que dou comigo a pensar que tenho 23 anos, sou uma miúda com a vida pela frente..no entanto podia já não estar aqui. Estive perto de me passar para o outro lado e isso assusta-me..Ainda há tanto a ver. Tantos sítios a descobrir. Tanto para viver. Tantas memórias a criar..
Somos frágeis nós os humanos e parece que às vezes nos esquecemos disso. Vivemos a mil à hora sem parar para apreciar a viagem. Deixa-mos o "amo-te" e o "desculpa" para dizer amanha...quando o amanha pode não existir...Algo em mim mudou..está a mudar em mim. Acho que toda uma nova consciência edefinitivamente uma nova forma de ver as coisas
Se há coisa que não tenho é vontade de rir. É revoltante o que estão a fazer à minha profissão. É vergonhoso o que fazer a tantos e tantos nenfermeiros por este Pais fora, 3.96€..a sério que merecemos ganhar menos que uma emprega de limpeza?? Sem qualquer desmericemento por essa profissão, mas sejamos realistas... nós temos a vida de gente nas mãos, estamos ali dia e noite, lado a lado a cuidar na saúde e na doença. Será que este valor compensa o risco que corremos todos os dias!?
Cada vez fico mais triste ..sempre quis fazer isto e agora dou comigo a ponderar se não seria melhor ir arrumar iogurtes. Ganhava mais, não tinha tanta responsabilidade nas mãos, não fazia os turnos maulcos que nos são cabo da saúde...
Se calhar o melhor é seguir o conselho do ministro e ir embora..ir para um sitio onde nos reconheçam. Onde nos deem o devido valor, cultural e economicamente... É triste... quando temos um dos melhores cursos ´de enfermagem, quando em Portugal se formam profissionais de excelencia que são procurados por todos os outros países que v~em em nós uma mais valia. É triste quando não se sabe ver a qualidade das genets que temos por cá..
Qualquer dia haverão de querer enfermeiros portugueses e estes não estão disponiveis porque foram embora à procura de coisas melhoras e aí já se poderá pagar balúrdios para trazer deste ou daquele canto enfermeiros para fazerem o "nosso" trabalho..
É triste. É revoltante. Queria trabalhar no meu pais..mas assim, bem assim está mesmo complicado..
Desculpem o desabafo, mas há coisas que me tiram do sério...